sábado, 30 de abril de 2011

As cidades e o tempo de leitura

Por Luiz Horacio, no LNO

Os projetos políticos atuais precisam urgentemente incorporar o valor "cultura" como uma coisa muito séria para a sociedade. A cultura é importantíssima para equilibrar a vida social e a formação da personalidade de seus indivíduos. É uma forma de saber. O conhecimento somente não basta. Já houve no Brasil uma preocupação bem maior com a política cultural. E quando falo de cultura, aqui, estou falando basicamente de leitura, de livros, e de espaços, lógico, como para a música e o teatro.




Quando estava ainda na graduação de Letras da UFSCar, fiz com a profa. Irene um projeto para a Pró-Reitoria de Extensão, que se chamava Hábitos de Leitura em um Pólo Tecnológico brasileiro. Nesse projeto estudamos várias abordagens sobre o mundo da leitura em São Carlos, que incluiam também o mercado literário e as teorias acadêmicas sobre leitura. Autores como Marisa Lajolo, Ezequiel T. da Silva, Paulo Freire e vários outros foram estudados, em confronto com dezenas de entrevistas de vários cidadãos.

dUma das conclusões principais a que chegamos, além do preço dos livros, da falta de uma política popular para a formação de bibliotecas DOMÉSTICAS, dos estudantes, das donas-de-casa ou de profissionais, e da falta de cultura de bibliotecas populares que tenham publicações como jornais e revistas próprios, comunitários, e publiquem os autores locais e até por bairros, foi a do tempo. O tempo de leitura. A nossa cultura atual, industrial, impositiva, monopolista, míope, restrita, imediatista, aplica na verdade uma política de estrangulamento total do tempo de leitura.

O ritmo social que vivemos, o espaço interno das casas, os outros meios de comunicação social, como a TV (a TV nas salas, calou a família - não fala agora, fica quieto! - o computador nos quartos, etc.), a tentativa de sugar toda a energia dos cidadãos, a cada dia, a falta de condições dos transportes urbanos, a própria escala de valores totalmente materialistas, a depreciação do estudo, a enorme queda do nível intelectual geral da sociedade, as editoras também querendo explorar ao máximo o livro como objeto de lucro, de consumo, sem preocupação de ampliar o público leitor em edições mais acessíveis, tudo combinado faz com que aqueles momentos, em que se sentava no terraço, na cidade, no sítio, na cadeira de balanço, na rede, coisas assim, tudo isso está praticamente extinto. Não é só a letra cursiva, mas, tragicamente, e tragicamente mesmo, a leitura em seu sentido amplo está em extinção. O culto ao livro.

Já cheguei a ter quase 500 livros, mas e o tempo para ler esses livros. E as pessoas perguntando, mas ler tantos livros para quê? É, meus amigos, é triste, muito triste. Peço um minuto de tristeza para todos, em nome dos livros e de nós. Quem sabe uma pequena lágrima?

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/as-cidades-e-o-tempo-de-leitura

Meu comentário

Quem de nós já não professores conduzindo seus alunos para que tenham contato com obras de arte, livros, autores, em visitas a museus, galerias de arte, bibliotecas, prédios históricos, etc.
Ontem fiquei intrigado ao presenciar uma destas visitas.
Fique surpreso pq a visita era a, pasmem, shoping center!!!
Eram várias turmas em visita ao Banana Shoping, centro de Goiânia,  que fica não muito distante do Centro Cultural da UFG, onde encontra-se em exposição o I Salão de Arte Contemporânea do Centro Oeste
Francamente não entendi o que aquela molecada, várias turmas, na faixa de 7 a 10 anos de idade, estavam fazendo ali, prá ver o que mesmo se ali só existem lojas, praças de alimentação, enfim, consumismo
Penso que uma das saídas seja encontros que tratem do assunto, onde os livros sejam o assunto, dias atrás participei de um, quando conheci o escritor Zeca Baleiro, o ilustrador Roger Mello,  e outro;


Hábito da leitura

Autora: Rosane Magaly Martins

Saber ler é uma exigência das sociedades modernas. Há, contudo, uma importante diferença entre saber ler e a prática efetiva da leitura. Se a habilidade de leitura é uma necessidade pragmática e permite a realização inclusive de atividades básicas, como identificar uma linha de ônibus, ler ofertas ao realizar compras, entre outras ações, a prática da leitura é importante instrumento para o exercício da cidadania e para a participação social.

Anualmente vejo, leio, ouço discussões imensas sobre a necessidade de estimular nosso estudante ao hábito da leitura, fazendo disso uma meta que envolve destinação de verbas de governos municipal, estadual e federal. Então acontecem encontros, simpósios, congressos e outros eventos que reúnem profissionais da educação para discutir o tema com apoios de empresas e entidades. Aqui mesmo em Blumenau acontecerá nos dias 29 e 30 de maio o Encontro Municipal do Proler.

Para quem não sabe (e pouca gente sabe), o PROLER (Programa Nacional de Incentivo à Leitura) é um programa nacional criado através do Decreto Presidencial nº 519, em maio de 1992 e vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, órgão do Ministério da Cultura. Articulado em diversas regiões do país, desenvolve ações voltadas aos educadores no estímulo da leitura. Mas será que estas ações revertem efetivamente em prática de leitura?

Percebo o esforço de professores levando crianças às bibliotecas, promovendo sessões de leitura, recebendo os escritores em sala de aula (projeto autor-escola), envolvendo o aluno na criação literária (projeto aluno-escritor). Percebo também o esforço dos pais, comprando, muitas vezes com sacrifício, livros para seus filhos, e o esforço do governo, distribuindo livros, promovendo bibliotecas (o governo federal é o maior comprador de livros de todo o país). Tudo isso é importante, mas não muda a situação.

A situação da leitura no Brasil é precária. Todo o conhecimento acadêmico da humanidade está nos livros, sejam eles concretos ou virtuais. É preciso ler, e saber ler. Na França, cada pessoa lê, em média, 25 livros por ano. No Brasil, a estatística aponta a leitura de pouco mais de um livro por brasileiro. A questão é cultural, de hábito, de vivência.

É difícil tornar um adulto não leitor em leitor. Mas é muito fácil tornar uma criança em leitora. As crianças costumam adorar livros, as histórias, as ilustrações, têm sede de conhecimentos, de fantasias, de descobertas, estão em fase de formação e de adquirir os gostos e hábitos que as acompanharão por toda a vida. Porque não introduzir em todos os currículos escolares a matéria leitura? Uma matéria agradável, de baixo custo e grande rendimento, que não precisa de novos professores, nem de professores especializados. Basta instruir os professores: leiam com as crianças, todos os dias.

O livro deve estar presente, ali perto, ao alcance da mão. É preciso haver em cada sala de aula uma estante com livros, e que todos os dias as crianças fiquem, por um tempo qualquer, meia hora, uma hora, lendo ou ouvindo a leitura, manuseando livros, olhando-os, criando intimidade e amizade com o livro. Todos os dias. E um livro deve ser levado para casa, diariamente, a fim de que os pais promovam também um horário de leitura, todos os dias, mesmo que por apenas meia hora.

O caminho é o de trazer o livro para o cotidiano, dele integrar a rotina tanto na escola como em casa. Não basta gostar, é preciso ter o hábito. E as crianças poderão desenvolve-lo se forem estimuladas e verem seus professores, seus pais, seus colegas lendo diariamente. Simples, aplicável, de resultado certo.
Fonte: Overmundo
http://tudosobreleitura.blogspot.com/2010/06/habito-da-leitura.html

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